Carta ao PapaNeila Baldi style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">
Caro Francisco Escrevo-te na humildade de uma cristã que não segue a tua igreja. Mas sei que tu vais me ouvir, pois pregas o diálogo inter-religioso. Escrevo-te porque sei que escolheste este nome em homenagem a São Francisco de Assis, que se dedicava aos pobres. Aqui em Santa Maria, também temos alguém como tu, que muito se dedica aos pobres: irmã Lourdes Dill. É sobre ela esta carta. Francisco, tu vens revolucionando a Igreja Católica, dizendo que ela tem que ser mais aberta e acolhedora. Tem se dedicado às periferias existenciais e geográficas do mundo e, assim como tu, irmã Lourdes Dill se dedica, aqui em Santa Maria, há 35 anos, ao Projeto Esperança/Cooesperança, referencial internacional da economia solidária. Sabes, Bergoglio, que o projeto foi tema de um programa de televisão nacional? E que foi depois disso que anunciaram a transferência da irmã para o Maranhão? Seria o pecado capital da vaidade o motivo desta mudança? POLÍTICA Francisco, tu dizes que: "envolver-se na política é uma obrigação para o cristão. Nós, cristãos, não podemos nos fazer de Pilatos e lavar as mãos, não podemos!" Irmã Lourdes sempre esteve ao lado dos desvalidos, construindo um outro mundo possível. Trata-se de uma religiosa engajada nas causas sociais, corajosa e de posicionamentos firmes. É do tipo de igreja que tu pregas. Pergunto-te: é por isso que está sendo transferida? Lembras, Francisco, que tu mudaste o arcebispo de Santa Maria faz pouco? Ah, Francisco, mas tu poderias dizer que o país precisa de irmã Lourdes, que a revolução que ela fez em Santa Maria poderia fazê-la no interior do Maranhão. Sim, poderia. Ela irá para Barra do Corda, com pouco mais de 88,2 mil habitantes, atuar em projetos de economia solidária voltados à população pobre e aos povos indígenas. Trata-se de uma região de conflitos agrários. Sabemos de que lado irmã Lourdes estará. E tememos o mesmo fim que teve a irmã Dorotty, no Pará. MISERICÓRDIA A tua santa igreja alega que as irmãs ficam poucos anos em uma comunidade e partem para novas missões. Mas metade da vida de irmã Lourdes foi dedicada ao projeto Esperança e a Santa Maria. Não é desumano transferi-la agora, aos 70 anos? Caro Papa, irmã Lourdes já esteve em Cerro Largo, Santo Cristo, Porto Alegre, Campo Mourão entre outros lugares. Por que o Nordeste agora? Sabemos que, até o fim de sua vida, continuará incansável na sua luta por um mundo melhor. Por isso, desejamos que ela esteja junto daqueles e daquelas que estiveram com ela em metade da sua vida. Ela, que tanto já fez, não merece poder escolher ficar? Sabes, Francisco, está na hora da tua igreja mudar. Por que só aos homens é dado o poder?
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Não precisamos ser gremistas ou colorados Noemy Bastos Aramburú style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever"> Quando pequenos, aprendemos que existe Colorado e Grêmio, e que devemos optar por um deles. Na escola, aprendemos que tem a turminha das práticas esportivas: ballet, futebol, vôlei e a turminha das artes: pintura, canto, música. Novamente, somos convidados a fazer uma escolha. E assim segue a vida, de escolhas em escolhas, porém, com o tempo, percebemos que as escolhas nem sempre são necessárias, que podemos torcer apenas para o Brasil. Logo em seguida, percebemos que é possível fazer vôlei e pintura, e não fazer ballet como fez nossa irmã, mãe e tia. Mas a apresentação das escolhas não para por aí. Vem a faculdade, os pais sutilmente "sugerem" os cursos. Ah! E, se um deles for médico, já sabemos qual será a "sugestão"kkkk. Não há como negar que, quando os pais, nos colocam no futebol ou no ballet, eles estão projetando em nós algo positivo. Quando nos veem entrar na mesma faculdade deles, o orgulho lhes bate à porta. Mas não tardamos em perceber que as escolhas e sugestões são uma constante em nossas vidas, porém, surgem até mesmo de estranhos, com motivações diferentes das apresentadas por nossos pais, coleguinhas e professores, com motivações que não são mais impulsionadas pelo amor, orgulho ou zelo. Aos 18 anos, vem a primeira imposição por estranhos, a obrigatoriedade de fazer o título eleitoral e, com ela, de escolher um partido, e lá vem as pessoas estranhas te apresentando a seguinte escolha: direita ou esquerda? Aí você pensa. Eu não me vejo de esquerda nem de direita, mas o estranho insiste que você está posicionado num destes lados. Para completar, recebe o título de Bolsonarista, quando, na realidade, sua ideologia, sua visão de vida, seu entendimento vai de certo encontro ao presidente Bolsonaro, sem que isso lhe defina como bolsonarista. Você não é cego nem radical. Pelo contrário, você é uma pessoa que tem presenciado a falta de roubo, a falta de corrupção, a falta de desperdício do dinheiro público. Você entende que o presidente pode viajar para Santa Catarina para passar as festas de fim de ano e não ir para a Bahia assistir à enxurrada, até porque pelo que sei, ele é militar do Exército aposentado e não militar bombeiro. Vamos aprender a respeitar as pessoas, que nossas escolhas só podem gerar consequências para nós, que o outro pode tomar as próprias decisões. Que, em 2022, sejamos mais tolerantes com o outro e olhemos um pouco mais para dentro de nós mesmos.
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